Um conservador cristão deve ser contra o Bolsonaro?

Comecemos por esse tal papo de ser conservador.

O pai do conservadorismo, Edmund Burke, dizia que o ceticismo é elemento central da filosofia politica conservadora.

Michael Oakeshott, outra referencia do pensamento conservador, declarava que “todo conservador é uma pessoa cética”.

Bom, o que é ser cético?

Ceticismo é um modo de ver o mundo nascido na Grécia antiga que ensina você a duvidar de tudo. A palavra vem do verbo grego skopein e significa observar, ver com atenção.

Tá, legal. Entendido brevemente o significado raiz de ser conservador. Vamos problematizar a questão original.

Um cético chamaria algum ser humano de Mito?

Provavelmente Michael Oakeshott me responderia nos comentários que: “a pior coisa é um líder politico que queira me salvar”.

Um suposto conservador contemporâneo brasileiro, com um pouco de raiva, poderia responderia a ele: Tá mas e o PT? 

É nesta hora que Schopenhauer apareceria nos comentários questionando, o por que de responder uma coisa falando de outra totalmente diferente.

Enfim, como isso não vai acontecer eu mesmo respondo que não.

Não faz o menor sentido um conservador se entregar a um politico dessa forma o chamando de Mito!

Com qual liberdade e credibilidade você irá observar e manter um olhar crítico sobre um outro ser humano que o chama de mito?

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Na esquerda temos a lacrosfera. Na direita encontramos a mitosfera. Tenho preguiça de ambas.

Sigo problematizando. Um presidente que se diz conservador se portaria como diante de uma pandemia mundial?

O coronavírus não é culpa do Bolsonaro. Mas a maneira como ele se posiciona diante da crise. Sim, essa forma deve ser cobrada.

Do que adianta ser contra o aborto e pró-vida, e responder de forma leviana (que age sem seriedade, insensatamente) diante da morte de milhares de brasileiros? Dizendo coisas como: “isso é uma fantasia“.

Essa é uma pauta cara a maioria dos cristãos, então ai entro na segunda parte.

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Um batismo evangélico formando um 17 — número da urna de Bolsonaro. O que João Batista diria disso?

Um cristão deve apoiar o Bolsonaro?

Vamos lá, antes algumas palavras introdutórias.

Defendo a separação da Igreja com o Estado.

A Igreja não pode falar o que é crime, e o Estado não pode falar o que é pecado.

Dito isso, me incomoda ver qualquer manifestação de apoio a um candidato politico dentro de um evento religioso, seja ele quem for.

Isso não significa que a igreja não deva discutir política. Faz parte do processo de ser igreja interferir na cidade para fazer o bem e a justiça.

Lembrando de pessoas notáveis como o Reverendo Martin Luther King que não permitiu que sua atuação ficasse confinada ao templo, mas interveio no contexto político do seu tempo.

Tá, mas e o Bolsonaro? Posso apoia-lo usando o cristianismo como base?

Respondo: Depende.

Depende do tipo de cristianismo que você acredita.

Eu reconheço um cristão da forma que Jesus disse que conheceria: “dessa maneira todos irão reconhecer que vocês são meus discípulos, quando eles virem o amor que vocês tem uns pelos outros.

Olhando por esse viés, não consigo ver cristianismo no governo Bolsonaro que manda um “E daí?” depois de ser informado que o Brasil havia passado a China no número de mortos.

Tratar a vida com desdém, deve sim ser alvo de crítica por um cristão.

Enquanto alguns, pasmem, o chama de mito.

Isso porque João nós disse: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”.

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Difícil ver ceticismo e não ver idolatria em alguém que compartilha isso.

Leituras distorcidas sobre o que é ser cristão tem sido feitas para passar aquele famoso pano.

A postura de ser protestante tem ficado de lado, para aceitar um discurso que um dia será — e já está sendo — cobrado por esse cristianismo que virou subserviente (que consente em servir a outro de maneira humilhante; condescendente em demasia) de um projeto politico.

 

Mas e aí bonzão, você é lulista, bolsonarista, insentãosista ou o que? Como posso rotula-lo?

Bom, eu me considero um mateusista.

Isso significa, que o pensamento que mais me representa é a minha própria consciência.

E devo admitir que até mesmo essa “ideologia” , por vezes apresenta suas falhas e contradições.

O que eu quero dizer é que ficar preso a um politico será sempre uma furada.

Ainda mais um politico eleito que está lá para nos servir, e não nós servimos ele.

 

 

8 comentários

  1. Por que a igreja não pode falar o que é crime?
    A igreja não é composta por cidadãos, em pleno gozo de seus direitos? Não somos nós quem elegemos legisladores para que criem leis de interesse público para regular a vida em sociedade? O poder não emana do povo através de seus representantes políticos?
    Então entendo que a igreja, como qualquer cidadão, deve se posicionar em qualquer tipo de criação de lei, seja criminal, ambiental, cívil, etc. Pra isso existem as consultas públicas, plesbicito, etc.

    • Olá, Edmilson, obrigado por vir ao blog, ler e comentar. Com isso tive uma oportunidade de me fazer mais entendido. Bom, é claro que um grupo de pessoas que são da mesma fé podem e tem o direito de se posicionarem politicamente da maneira que acreditarem. No entanto, quando eu digo que a igreja não pode dizer o que é crime, significa que aquilo que entendemos como pecado não pode ser categorizado automaticamente como um crime. Por exemplo, cobiça e inveja são considerados pecados, porém não podem entrar na classificação de crime. Por serem valores subjetivos, isso escaparia de um processo de julgamento justo. Outro exemplo é a classificação da defesa a família tradicional. O que é e como dar a definição desse termo? Sendo assim, quebrar a definição de família tradicional se enquadraria como pecado ou crime? Lembrando que hoje podemos ter um Estado que seja cristão, amanhã esse estado pode ter uma profissão de fé totalmente diferente desta vigente. Quais seriam as consequências disso? Podemos responder isso, como um bom conservador faria, que é olhando o que a história nós diz. Vemos no passado, e no presente em países islâmicos o quanto é complicado colocar a igreja como detentora de dizer o que é crime, assim como é igualmente perigoso um estado querer definir o que seja pecado. Abraços!

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